quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Levantamento mapeia locais onde as estrelas nascem


(Astronomia On Line - Portugal) Uma equipa de astrónomos liderada por Yancy Shirley do Observatório Steward da Universidade do Arizona completou o maior levantamento de sempre de densas nuvens de gás na Via Láctea - zonas de gás e poeira onde novas estrelas estão a nascer. Catalogando e mapeando mais de 6000 nuvens de gás, o estudo permite com que os astrónomos compreendam melhor as primeiras fases da formação estelar.

"Quando observamos a Via Láctea numa clara noite de Verão, apercebemo-nos que não é uma corrente contínua de estrelas," afirma Shirley. "Ao invés, notamos todas aquelas pequenas manchas escuras onde parece não existir estrelas. Mas essas regiões não estão desprovidas de estrelas - são nuvens escuras que contêm gás e poeira, a matéria-prima a partir da qual as estrelas e planetas se formam na Via Láctea."

De acordo com Shirley, o estudo é um importante passo em frente na Astronomia porque permite com que os astrónomos estudem as fases iniciais da formação estelar, quando o gás e poeira nas nuvens estelares estavam começando a coalescer, antes de dar origem a aglomerados de estrelas. Ele explicou que grande parte da pesquisa ao longo dos últimos 30 a 40 anos tem sido muito direccionada para regiões onde potenciais estrelas, as chamadas proto-estrelas, já começaram a tomar forma.

"Todas as grandes e famosas regiões de formação estelar na nossa Galáxia têm sido estudadas em grande detalhe," realça Shirley. "Mas sabemos muito pouco sobre o que acontece naqueles aglomerados sem estrelas, antes do nascimento das proto-estrelas, e onde."

O levantamento fornece o primeiro mapa imparcial da Galáxia, que mostra onde todas essas regiões estão, em diferentes ambientes galácticos e em diferentes estágios evolutivos. Isto ajuda os astrónomos a melhor entender como as propriedades destas regiões mudam com o avançar da formação estelar.

"Os aglomerados sem estrelas só foram detectados, até à data, em pequenos números," afirma Shirley. "Agora, pela primeira vez, vimos esta primeira fase de formação estelar, antes da formação do enxame, em grandes números e de forma imparcial."

De acordo com o astrónomo, a taxa de formação estelar na Via Láctea era maior no passado, e actualmente as estrelas formam-se a um ritmo de uma massa solar por ano.

Quanto tempo é preciso para uma se tornar "adulta"?

"Isto é algo que nós esperamos ser capazes de calcular, comparando o número de fontes naquela fase inicial, com o número de fontes numa fase posterior," explicou Shirley. "A relação entre os dois diz-nos quanto tempo dura cada fase. No nosso levantamento parecem haver menos regiões que ainda não começaram a formar estrelas do que aquelas que já começaram, o que nos diz que a fase inicial deve ser mais curta. Se essa fase durasse mais tempo, deviam existir em maior número."

Dado que as densas acumulações de poeira são impermeáveis à luz no espectro visível, os astrónomos não podem observá-las com telescópios ópticos.

"Para aqueles de nós que querem estudar a formação das estrelas, isto constitui um problema real, porque se queremos observar uma estrela jovem ou um aglomerado de estrelas que se forma nessas nuvens escuras, toda a poeira fica no caminho," afirma Shirley.

No entanto, verifica-se que a mesma poeira que bloqueia a luz visível, brilha em comprimentos de onda longos, especificamente no rádio, que são cerca de um milhão de vezes maiores do que a luz visível.

"O calor que emana dos jovens enxames estelares que se formam dentro das nuvens, combinado com a radiação ambiente e até mesmo a luz estelar da galáxia circundante, tudo isso aquece esses grãos de poeira um pouco acima do zero absoluto," afirma Shirley. "Como resultado, brilham, permitindo-nos espreitar o interior das nuvens com um radiotelescópio em comprimentos de onda longos."

Para o seu estudo, que cobre todas as partes do plano galáctico visível a partir do Hemisfério Norte, o grupo usou o Telescópio Sub-Milimétrico do Observatório Rádio do Arizona, equipado com um novo receptor sensível. Shirley acrescenta que foi a proximidade e acessibilidade do telescópio operado pela sua universidade que tornou este projecto possível.

O estudo foi publicado na revista The Astrophysical Journal.

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