segunda-feira, 21 de julho de 2014

Tempestades no vácuo

A energia do espaço vazio pode destruir estrelas e até revelar a natureza da matéria escura


(Pesquisa Fapesp) Vácuo não é sinônimo de nada, ao menos para os físicos. Eles afirmam que mesmo o espaço aparentemente vazio ainda contém alguma forma de energia que flutua constantemente, como as pequenas ondas que tornam enrugada a superfície de um lago soprado pelo vento. Embora a energia do vácuo e suas oscilações em geral sejam sutis demais para serem percebidas, a não ser em escalas microscópicas, uma equipe de físicos teóricos de São Paulo acredita que elas podem ser amplificadas até atingirem a escala astronômica e destruir estrelas inteiras. Isso é consequência do efeito descoberto há quatro anos pelo físico Daniel Vanzella e seu então estudante de doutorado William Lima, que atualmente realizam uma série de cálculos complicados para tentar conhecer em detalhes como essa energia do vácuo pode influenciar o destino das estrelas mais densas do Universo, as estrelas de nêutrons.

Em 2010 Vanzella, Lima e o físico George Matsas perceberam que, sob certas condições, a imensa força gravitacional das estrelas de nêutrons seria capaz de agitar as flutuações da energia do vácuo. E concluíram que essa espécie de tempestade de energia não duraria mais que um segundo, mas sua violência seria suficiente para destruir a estrela que a gerou. Os cálculos mais recentes, entretanto, sugerem que, se o efeito que batizaram de despertar do vácuo realmente existe, suas consequências para as estrelas de nêutrons podem variar bem mais do que os físicos imaginavam. Pode ser que as estrelas realmente explodam, deixando um buraco negro ou mesmo nada no lugar. Mas também pode acontecer que sobrevivam, apesar de sofrerem uma redução drástica de massa e energia. No artigo mais recente, publicado na revista Physical Review D, os pesquisadores esclarecem quais análises e testes ainda precisam ser feitos para determinar as consequências finais do despertar do vácuo. “Queremos saber todos os fins possíveis para essas estrelas”, afirma Vanzella, pesquisador do Instituto de Física da Universidade de São Paulo em São Carlos (IFSC-USP).

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